Frente a Frente com o Fogo recebe Alexandre Mauj Imamura do Blog Lost in Japan.
O Samurai da Blogosfera! Mostrando toda sua arte de pensar e falar bem, nosso amigo fala de usa vida no japão sob uma ótica inusitada e inteligente. Mostrando todo o refinamento que costumamos ver em seu Blog neste bate papo que faz parte das comemorações dos 2 anos do Versos de Fogo.
Alexandre, quando você teve a ideia de criar o Blog?
Eu sou muito preguiçoso e a idéia de ter um blog me dava preguiça só de imaginar.
Escrever com assiduidade, postar coisas, fotos, vídeos...
Ter idéias para escrever, ter que escrever sem ser “de qualquer jeito” que nem eu estou acostumado rs...eu imaginava que me daria um trabalho enorme e nem sempre compensador (ainda mais em tempos de tanto bullying virtual).
A idéia de criar o blog nem foi minha, mas da minha irmã.
Ela sempre me cobrou um, sempre insistiu para que eu contasse em um blog as coisas que eu contava pra ela, aos parentes e amigos, de como era minha vida aqui.
E notei que o blog facilitava muito, era só contar uma vez que todo mundo lia, não precisava mandar foto nem texto para cada amigo ou parente, nem contar a mesma história para cada um, olha só, rs.
E no fim acabou chegando tanta gente legal, tantos amigos excelentes e especiais que o blog virou só alegria e fico feliz de ter meu bloguinho. Quando penso no meu blog e nos amigos que lá frequentam me sinto contente.
Há quanto tempo mora no Japão e desde que idade?
Moro no Japão há dez anos, vim com 26.
Tenho 26 anos de Brasil e 10 de Japão, apesar de muita gente achar que nasci aqui. rs.
Como é a vida de um brasileiro no Japão normalmente?
Sinto que a vida aqui depende muito de você.
Se você souber aproveitar o país a vida é ótima.
Se for daqueles que só lamenta e nada faz, a vida é ruim.
Ou seja, não é diferente de outros lugares no mundo, igualmente no Brasil.
Tem muita coisa boa aqui para se conhecer, viver, aproveitar.
A vantagem daqui é que trabalhando você consegue ter uma vida digna, mesmo que não seja um trabalho tão “glamouroso”.
Pena que nós, brasileiros, somos muito fechados culturalmente, muitas vezes nossa visão de mundo e da vida em si é estreita demais, então a Vida é ruim como consequência disto. Conhecendo outras pessoas, de outras nacionalidades, sinto que infelizmente é o nosso, o brasileiro, um dos mais “cabeça-dura” para se adaptar à uma nova realidade.
Como é a sua vida no Japão?
Trabalho, estudos.... gosto da vida que levo aqui.
É uma vida tranquila, calma.
O que você gosta de fazer pra se divertir?
Vou para tudo o que é canto, conhecer um monte de coisas novas e diferentes.
É o que mais curto. E claro, adoro meus amigos, discos e livros.
Qual é sua opinião sobre a Blogosfera:
Das redes sociais acho que é a melhor de todas, a “clássica”.
A gente sempre aprende muito na blogosfera, conhece um monte de gente interessante e que tem tanto para ensinar. Pessoas incríveis.
Muitas vezes sinto que as pessoas perdem tempo demais brigando em twitter ou se distraindo em excesso no facebook, sites bobocas de humor, etc.
Mas nos blogs, na blogosfera, o resultado é muito mais positivo e enriquecedor. Gosto muito!
Quais tipos de Blog são seus preferidos?
Só não curto muito blog de moda feminina, rs.
De qualquer assunto eu acho legal, sempre tem muito o que aprender e conhecer.
E sobre a Internet livre o que você tem a dizer:
Sou à favor da liberdade de expressão. Mas como na vida é preciso respeito, ordem, educação. As coisas estão meio sem limites em excesso, no sentido de ter sujeito considerar engraçadinho debochar de defeitos físicos, crimes, preconceitos.
Você tem amigos na Blogosfera e nas Redes sociais, acredita que uma amizade ou um amor podem acontecer virtualmente?
Amizades, eu acredito sim. Acredito porque é um fato real em mimha vida.
Tenho excelentes amigos virtuais, gosto tanto deles como gosto dos “reais”.
Amor virtual, nunca passei pela experiência, então não sei como é.
Mas vi muitos casos de amores virtuais que resultaram em felizes uniões reais. E outros não.
Como tudo na vida, acho que depende muito mais das pessoas envolvidas que da “situação”.
Você gosta de anime japonês e tokusatsu?
As faces da cultura japonesa mais conhecidas no exterior (anime, mangá, tokusatsu...) eu não curto, não.
Caso sim, você assiste aos lançamentos no cinema?
-
Como é a vida cultural em sua cidade?
Japoneses valorizam muito a educação. Por consequência, a cultura.
Sempre há muitos eventos culturais, por toda a cidade.
Muitos festivais de música, poesia, artes tradicionais e modernas.
Na cabeça de japonês é um desperdício você ficar vendo televisão de fim de semana, em casa. Eles são bem “rueiros”, é programa de fim de semana ir à um evento cultural, atividades diversas.
E o cinema japonês como é?
Fisicamente são muito confortáveis rs. E os espectadores são educados (não ficam conversando no meio do filme, jogando pipoca pelos ares, essas coisas de maloqueiro).
A produção local tem grande espaço, geralmente a arrecadação empata ou perde por pouca coisa para os filmes estrangeiros. Tem uns filmes que gosto muito, recomendo “A Partida” (tem no Brasil em DVD),
Existem ainda os grupos de teatro como Kabuki e outros tradicionais?
Existem e fazem muito sucesso.
Há também os “kabuki” versão feminina (Takarazuka), só mulheres podem atuar.
A tv mantém a transmissão de peças de Kabuki e Noh nos fins de semana (como se fazia no Brasil com o TV de Vanguarda, Grande Teatro Tupi...). No ocidente se diz muita besteira, que nem geishas existem mais, pura bobagem (dentre tantas que falam daqui).
O que você destacaria do Japão hoje?
Hoje o Japão já não tem mais aquele pensamento do crescimento do país, de desenvolvimento, de trabalho, trabalho e trabalho.
A China está na frente, passou o Japão. Outros emergentes caminham para tal, inclusive o Brasil.
A fase é de estabilidade e até mesmo uma certa retração.
Então sinto que na sociedade há um grande questionamento de qual o valor da vida, do trabalho, do ser humano, os valores mudaram.
E depois da tragédia do terremoto, voltou um grande senso de união de todos, como havia no pós-guerra, pela reconstrução.
Uma coisa que destaco bastante é justamente esse sentimento de ação pelo coletivo, por todos. Uma visão cultural menos egoista, menos “eu e só eu”.
Houve o grande terremoto em 2011, em um ano o país praticamente se reconstruiu.
Depois de pouco mais de um ano do acidente nuclear no japão, o que se tem falado sobre o assunto?
A pressão aqui é muito grande em relação ao assunto.
Mesmo antes do acidente nuclear as pessoas já olhavam a energia atômica com desconfiança (muitos já tinham medidores de radiação em casa, etc).
Era uma energia “necessária”, mas muito rejeitada.
E o tempo provou que o povo tinha razão, deu no que deu.
Hoje não há NENHUMA usina nuclear funcionando no país, TODAS estão desativadas.
E a briga é pelo fim de todas, o fechamento definitivo. Na província que moro (Aichi) não há usina nuclear, mas há na província vizinha (Shizuoka). E a pressão popular mantém a usina fechada mesmo não tendo sofrido nenhum dano devido ao terremoto de 2011.
Não temos racionamento de energia nem apagões, mas o povo tem se esforçado para economizar luz justamente para não precisar mais de usina. Segue forte a pressão para o apagão definitivo da energia nuclear no país, protestos e abaixo-assinados são uma realidade constante.
O que se fala de ecologia e sustentabilidade por aí?... Na escola existe uma educação mais específica? Pois aqui no Brasil, fica tudo muito na teoria tanto nas escolas, por parte do governo e das indústrias.
Aqui... sinto que a questão eco é mais na prática.
As coisas aqui costumam ser mais postas em prática, é menos teoria. Aliás, é a grande diferença que sinto entre o Brasil e Japão: no Brasil tudo fica mais na teoria, todo mundo sabe o que está errado mas praticamente não há meios de agir, não há movimento além da idéia.