... realiza mais uma momento incrível em 2013
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De repente a escuridão. Neblina, pouca luz, e um arrepio corta a espinha. Em meio a olhares curiosos e ansiosos, daqueles que buscavam algum ponto de referência, surge uma fila de senhores elegantemente vestidos de vermelho e branco e saudando a multidão que os acompanhava. Como em uma cena de filme, todos são transportados para a Candelária. Era 1963, e a comissão de frente do Salgueiro tomava a pista, como em um passe de mágica, cantar novamente Xica da Silva, a escrava que virou rainha. A emoção tomou conta do ambiente e arrebatou todo o público. Mesmo aqueles que tentassem resistir.
Quem acompanha o carnaval do Rio de Janeiro já ouviu falar da energia que marca alguns desfiles históricos. Energia que permeia a lembrança dos mais velhos e desperta a curiosidade dos mais jovens. Como um resgate dessas lembranças, o “Carnaval Histórico 2013”, evento promovido pelo Jornal Extra, no Imperator (casa de shows da Zona Norte do Rio), homenageou os 60 anos do Salgueiro e reviveu três dos maiores desfiles da história da escola. Xica da Silva (1963), Bahia de todos os deuses (1969) e Festa para um rei negro (1971). Três enredos “afros”, três desfiles marcantes, três campeonatos vermelho e branco e uma sensação indescritível.
Cenas eternizadas em fotografias, como a famosa dança do minueto de Xica da Silva, ganharam cores, movimentos em nossos corações. Impossível não se emocionar ao ver Isabel Valença e sua eterna fantasia, coroada pela pomposa peruca. Linda, sorridente e eterna. - Mas é apenas uma fantasia – murmurou uma senhora que assistia tudo atentamente. Era mais que isso. Era Isabel de volta, provando que o legado de sua energia não irá se perder nas areias injustas das ampulhetas do tempo.
Em meio às luzes surge ela. A Iemanjá espelhada da “Bahia de todos os Deuses”. Uma maluquice inventada por Arlindo Rodrigues. Como uma lenda encantada, arrombava a retina de todos que para ela olhavam. Hipnotizados viram a alegoria desaparecer no túnel de luz, assim como a original, oferecida em oferenda à homenageada após o arrebatador campeonato de 69.
E as baianas? Nossa! Giravam para lá e para cá embaladas pelos versos fantásticos e atuais dos compositores do Salgueiro. Quem nunca cantou o “Ô-lê-lê / Ô-lá-lá” – famoso trecho do samba de 71. Até a torcida do Barcelona se rendeu a simplicidade genial da combinação mais famosa dos estádios de futebol. Não era a festa para um rei negro. Era a festa para todos os reis e rainhas que ali estavam. Todos negros, independente de cor.
Sempre buscando valorizar a memória daqueles que ajudaram a construir a história do maior espetáculo da Terra, o evento prestou reverência para algumas das maiores personalidades da história da escola tijucana. Djalma Sabiá, fundador da Vermelho e Branco, Zuzuca, compositor de sambas que estão para sempre gravados na memória da folia carioca, Fernando Pamplona, o carnavalesco que ajudou a mudar a maneira de pensar e ver um desfile de escola de samba e Casemiro Calça Larga, mítico diretor de harmonia salgueirense.
Autêntico como sempre, Fernando Pamplona quebrou o protocolo e desafiou os presentes a cantarem sambas recentes que não fossem de sua própria escola. Em seguida, cantarolou os versos de "Vem chegando a madrugada", composto por Noel Rosa de Oliveira e Zuzuca que voltou ao palco e arrebatou o público em um coro espontâneo e emocionante.
Recriando uma tradição da década de trinta, o evento promoveu a escolha do “Cidadão Samba”. No início do século a escolha era feita pela imprensa. Na modernidade dos dias atuais, a escolha foi feita através da internet. Nomes de peso como Neguinho da Beija-Flor, Monarco e Martinho da Vila estavam no páreo. Mas o resultado consagrou a genialidade de Zé Katimba. E a escolha não poderia ser mais acertada. Emocionado, o “Cidadão Samba” de 2013 subiu no palco com uma bandeira da Imperatriz e embalou todos ao som de “Martim Cererê” (1972) e “Em teu cabelo não nega” (1981). Duas composições suas que embalaram a Verde e Branca de Ramos.
A festa foi comandada por Ana Paula Araújo, apresentadora do RJTV (telejornal da TV Globo) e durou um pouco mais que o tempo de um desfile de escola de samba atual, cerca de duas horas. Porém, o que se viu na imaginária Candelária de outrora, cravada no chão do Imperator, ficará eternizada na memória. Muito mais que qualquer sensação efêmera das apresentações fantásticas contemporâneas. É o passado fantasiado de presente para projetar um futuro que nos faça sentir tão bem quanto antigamente.
Como a cereja do bolo, um encontro inédito encerrou a noite. Jair Rodrigues, Elza Soares e Martinho da Vila entoaram sambas antológicos como “Heróis da liberdade”, “Aquarela Brasileira”, “Salve a Mocidade” e tantos outros. No fim, eles tiveram a companhia de Leonardo Bessa, um dos intérpretes oficiais do Salgueiro, para fazer todos embarcarem no Ita e “explodirem o coração” de felicidade, já contando os dias para o próximo ano. Naquele sentimento que apenas a quarta-feira de cinzas nos deixava. "
"Isabel Valença, no amanhecer com a Candelária ao fundo... eterna imagem do desfile de Chica da Silva no Salgueiro..." Milton Cunha
Confira a fonte deste texto neste Link: http://www.carnavalesco.com.br/detal_carnavalesco.php?car_id=4662
2 comentários:
Oi Willian
Exitem desfiles que realmente a gente nunca esquece. Chica da Silva, por sua história sempre chama a atenção. Para mim existem três chicas: a de Diamantina amante do intendente, Isabel Valença no desfile e Zezé Mota no cinema.
Bjux
Olá, amigo
O Carnaval, apesar de ser uma "festa da carne"... nos ensina muito... é só olhar e querer enxergar...
Bjs fraternos de paz e pascais
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