quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Sobre o livro Coração Selvagem


Com inspirações anos 80 e 90, uma poesia livre e passional.



CORAÇÕES SELVAGENS
FLAMEJANTES

Há um coração selvagem no peito de quem enfrenta
um tanque de guerra, apenas com uma flor...
Um coração de amor...
No peito do poeta e do navegador
Quem sabe viver e vive bonito?!
Quem sabe sangrar e sangra bonito?!
Quem não desiste jamais e não entrega a luta?!
Há um coração de fogo em quem sonha
e ousa ser quem se é na essência! (...)








DO AUTOR E DO LIVRO

Quando no final da adolescência me descobri poeta a inspiração veio mesmo como um arrebato ou um pentecostes, embalada pelas paixões arrebatadoras e pelos estudos escondidos de esoterismo. Sentia também grande revolta (Revolta comum aos adolescentes) contra as diversas formas de opressão social, especialmente a opressão cultural e religiosa. Revoltado contra a falta de cultura que os jovens do interior vivem, e eu era um jovem cheio de vida, cheio de curiosidade e ávido por conhecimento. Havia também a revolta contra os padrões de beleza já que eu não me encaixava neles e ainda era fanho, tímido e arqueado, havia a vontade de ser livre no amor e no amar...
Some a isto tudo o desespero ou força e vontade de lutar para vencer uma depressão fortíssima, que quase se desenvolveu para Síndrome do Pânico, sim eu tinha nesta época a doença tão comum e na época tão famosa, e quase não soube que era isto não fosse minhas leituras e conversas com pessoas mais esclarecidas. Essa tristeza contrastava com a força imensa do meu coração, meu pensamento era muito vivo e minha vontade de aprender e me manifestar logo era enlouquecedora!
Eu era um garoto difícil de trato em casa e na escola, quase histérico de tanta energia.
Outra inspiração é  Drummond que canta: “por isto me exponho nas livrarias...”, se referindo a seu coração que é pequeno pra tanta emoção e força e para o tamanho do mundo que dentro deste coração fica apertado e faz estalar!... sim o poeta faz uma terapia..., ele senta e fala e fala, mas podemos ver por outro lado: ele senta e canta e canta...!!! Obvio escrever era uma forma de canalizar e de não se suicidar como disse bem o “Cisne Negro”... Era uma raiva também pois ninguém acreditava que eu era bom...
Primeiro quis me educar e depois me apaixonei por mim assim, rebelde e quase louco! Alma forte, que a vida quase abateu feito um pássaro selvagem! (Mais poesia!)
Enfim a poesia na minha carne foi uma navalha, uma cirurgia, um batismo de fogo mesmo.
Aí veio o jornal na loja onde eu trabalhava assinava... Nele uma matéria sobre Hilda Hilst!... Intitulada A Profana Hilda Hilst vai ao Olimpo” ... assim Hilda e seu verso forte e de um simbolismo quase hermético que para mim na época, mas não era menos mítico e verdadeiro mas algo em mim sentia e compreendia a força daquela palavra e daquela pessoa que escrevia... e eu quis escrever... E então eu nunca mais fui o mesmo!
Acho que era a primeira vez que eu me permiti mudar! ... Me mudar...
Sim a força feminina era um exemplo de ser selvagem para mim, o que muito tempo depois vim conhecer como “a porção da Deusa em cada um de nós” e “Mulheres que correm com lobos” .Era a vontade e a consciência de ter que ressurgir para viver (RESPIRAR!) se não, não seria possível continuar... Eu tinha ganho muitas feridas, até mesmo feridas que não eram minhas, e somente com esta energia selvagem que descobri em meu peito eu poderia sobreviver a esta dor... a dor de viver! E ressurgiria e ela me veio das mulheres nervosas e até violentas em suas personalidades. Sempre fui rodeado de mulheres em sem ser “afeminado” ou “bichinha”, as mulheres estavam do meu lado por que se sentiam protegidas comigo, e eu sempre as compreendia e as refugiava em meu peito de amigo. Mas nem sempre esta relação com as pessoas são feitas de flores a maioria é apenas de espinhos.
Enquanto escrevia o livro Coração Selvagem eu saia de uma depressão e de um pânico terrível, e quando eu escutava Ana Carolina eu sabia que eu tinha aquela força de não chorar por amor perdido.
Era mesmo andrógeno apesar de grande e  desengonçado. Havia um charme de poeta desde sempre, e o cabelo roxo ou be-ter-ra-ba! E os vários brincos na orelha. Eu me sentia belo enfim! E até as espinhas gigantescas se foram!
E a poesia e a energia cresceram, e o garoto bobo que todos zoavam na escola um dia entrou na sala de aula com poder. Algo havia mudado nele.
Eu tive que incomodar muitos para ser respeitado e descobri que isto é quase natural na vida! Ou ao menos a mim é muito natural.
Paulo Coelho e seu Manual do Guerreiro da Luz eram meu manual simultâneo na busca pela verdade com BELEZA! E meus versos iniciavam tímidos e fracos ou eram verdadeiras palestras anarquistas!... Mas uma poesia forte ganhava espaço, era sensação e não  palavras!
Este desejo de ser biográfico e escrever diários, me incomodava muito, mas era pra ser assim não sei explicar, até hoje não sei explicar o motivo que eu fiz de mim a matéria bruta da minha canção que nem sinto ser minha...
Eu sentia algo maior que eu entre mim e a Terra, entre o mundo e a vida! E queria achar a palavra certa e certeira para definir este indizível em meu peito... que era tão forte que faltava conhecimento para expressá-lo! 'O adolescente é uma fera', como disse bem, Mario Quintana que com sua doçura inteligente que me refinava... meus Mestres eram quase sempre invisíveis... O sabor da poesia daquela época jamais esquecerei, a primeira vez que o senti... em minha boca nascendo.... Como a primeira vez que se prova uma estrela... novamente citando Mário...
Ainda veio Walt Whitman em uma nova matéria de jornal. Lá mesmo no meu trabalho na loja do Tadeu. Era um texto sobre Burning Man... E sobre opai do pensamento Ocidental. Que se tornou então sem eu notar meu pai também... E mais tarde estaria nele irmanado.
Cecília Meireles me diz: “A vida só é possível reinventada!” E eu tomei isto como meu lema e jamais posso esquecer disso!
E quase dez anos depois eu encontro este pequeno texto na internet, que abaixo transcrevo:
   

    "Todos nós temos anseio pelo que é selvagem. Existem poucos antídotos aceitos por nossa cultura para esse desejo ardente. Ensinaram-nos a ter vergonha desse tipo de aspiração. Deixamos crescer o cabelo e o usamos para esconder nossos sentimentos. No entanto, o espectro da Mulher Selvagem ainda nos espreita de dia e de noite. Não importa onde estejamos, a sombra que corre atrás de nós tem decididamente quatro patas." (Clarissa Pinkola Estés, "Mulheres que Correm com os Lobos")

E aqui está o livro Coração Selvagem
Eu sobrevivi cantando! E sou muito agradecido pela Canção que me abriu a outros mundos...



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