segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Eu simplesmente comecei a escrever por causa desta mulher! Hilda Hilst!

Quando me deparei com um verso dela na Folha de São Paulo em 1999, o título era "A Profana Hilda Hilst vai ao Olímpo." Me choquei especialmente com este trecho de verso que durante muito tempo foi a única literatura dela que eu tive...

"Venho de tempos antigos. Nomes extensos: Vaz Cardoso, Almeida Prado Dubayelle Hilst... eventos. Venho de tuas raízes, sopros de ti. E amo-te lassa agora, sangue, vinho ... Amo-te, mínima como quem quer mais, Como quem tudo adivinha, lobo, lua, raposa e ancestrais. Como se pisássemos em avencas e elas gritassem vítimas de nós dois... intemporais veementes..."


Me choquei, pois eu a compreendia...! escutava-a! E hoje vejo que muitos a olham como se ela fosse mórbida ou cruel, desarmônica... importa que para mim ela é forte e para ela eu sei que ela era forte!
... ela fez parte da minha descoberta, do ser eu gente também, de poder ser forte, e gritar e dizer não quando não e sim quando sim, e despertou em mim o paladar da poesia em cada momento... Há momentos em que a poesia vem... e nos envolve... é inexplicável... me incomoda perceber que as pessoas não conseguem ver o sol na vida de Hilda e seus milhares de cachorros guardiões!... Eu não conheci Hilda Hilst, uma perda uma pena... eu sei, mas eu a compreendi e nestas coisas mágicas da vida, especialmente na vida de um homem tocado pelas artes eu tive um encontro com Hilda Hilst!... meu encontro com ela foi no teatro, quando fui assistir a peça Hilda Hilst O Espírito da Coisa... na época no Espaço Caixa Cultural em São Paulo, me assustei demais, pois quem escreveu a peça 'a viu' como eu a via, a viu real, e viu a 'Koisa' que ela era! a Força Suprema e o extremo dom de sentir a vida, a confusão é do mundo não dela!
A direção da peça é de Ruy Cortez, e eu até enviei um e-mail e ele que me respondeu muito gentilmente, fiquei chateado na época por que a atriz ( A Hilda) não me respondeu... mas passou logo, o grande ganho era ter ido ver a peça! e de graça! E ele o diretor me respondeu! Mas sem dúvida o que muito me honra! E eu fiquei louco, por que eu tinha encontrado a encarnação de Hilda ali!... ela estava incorporada! ...da energia dela! e foi um momento maravilhoso de minha morada em São Paulo, um dos melhores momentos da minha vida!... Estar ali e sentir o gosto da inspiração que era dela.. o pentecostes dela!
A concepção e a atuação ( BRILHANTE EXEPCIONAL!) é de Rosaly Papadopol, o que é interessante ressaltar aqui é que a idéia de todo o projeto dela surgiu a partir de uma matéria de jornal sobre Hilda... igual minha inspiração poética... e ela, no palco, consegue dizer quem foi esta escritora importantíssima de Lingua Portuguesa e ainda mostrar ali cruamente o seu valor histórico, artístico e cultural. Para um pais que não está nem aí pra seus poetas, onde poesia é sinônimo de 'romântico pedante na chuva gritando eu te amo para sempre Cinderela!'...esta produção vale ouro e diamantes, quero ressaltar aqui que a cenografia de André Cortez para o monólogo, que em momento algum cansa, é envolvente e surreal, o que transporta o espectador a uma dimensão compartilhada com Hilda ali em pessoa!
Vale a pena ir ver, creio eu que ainda esteja em cartaz em sampa.
Ela, com certeza, que me incendiou primeiro...
O meu maior amor poético é dela!

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