sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Torquato

 "Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. 

É o risco..."

Torquato Neto


Torquato Neto (1944-1972) foi um poeta, letrista jornalista e cineasta brasileiro, uma das figuras centrais do movimento tropicalista. Nascido em Teresina, mudou-se para Salvador e depois para o Rio de Janeiro, onde se aproximou de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa. Sua obra, marcada pela liberdade e contestação, abordou a contracultura e o cinema marginal, e ele colaborou com o movimento tropicalista através de parcerias musicais e textos. Exilou-se na Europa entre 1968 e 1971 e faleceu precocemente no Rio de Janeiro, aos 28 anos, após lutar contra a depressão e o alcoolismo.

Fonte da Imagem AQUI

Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu pecado
Meu sonho desesperado
Meu bem guardado segredo
Minha aflição

Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu degredo
Pão seco de cada dia
Tropical melancolia
Negra solidão

Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo

Aqui, o terceiro mundo
Pede a benção e vai dormir
Entre cascatas, palmeiras
Araçás e bananeiras
Ao canto da juriti

Aqui, meu pânico e glória
Aqui, meu laço e cadeia
Conheço bem minha história
Começa na lua cheia
E termina antes do fim

Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo

Minha terra tem palmeiras
Onde sopra o vento forte
Da fome, do medo e muito
Principalmente da morte

A bomba explode lá fora
E agora, o que vou temer?
Oh, yes, nós temos banana
Até pra dar e vender

Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo

(Marginália II - Gilberto Gil e Torquato Neto)


quarta-feira, 29 de outubro de 2025

O Rio de Janeiro continua sendo palco eleitoreiro...

Não se combate crime organizado em lugar nenhum desta forma, com matança e guerra

E sim, criando oportunidades para que o crime deixe de seduzir jovens e crianças, que a cada dia se aliciam a estas práticas, como dependentes ou funcionários, na esperança de terem uma vida digna, uma vida de poder aquisitivo. Escravos da máquina consumista que são, como todos nós.
Se combate o tráfico e o crime com educação de qualidade.
Oportunidade de emprego para jovens aprendizes;
Cursos de Informática gratuitos em comunidades carentes;
Vilas Olímpicas equipadas e funcionando, ao menos uma em cada região da cidade;
Cursos técnicos de Arte, Informática, Elétrica e eletrônica, mecânica, enfermagem, jardinagem, marcenaria, dentre outros cursos, todos unidos ao currículo escolar desde o ensino fundamental.
É assim que se combate o crime organizado e o tráfico.
Depois que ele se instalou apenas a educação e o conhecimento de verdade pode produzir algum efeito positivo.


Coração de Cavaleiro Vermelho

Coração de Cavaleiro  

Todas as dores tem nome e origem!

Cada ferida um troféu!

E cantam na noite escura

a tua saudade

sempre!

Cada sonho é um motivo

para ter fé na vida...

Na certeza

de que

"é possível mudar as estrelas!"

 

E nós amigos mudamos juntos

os Rumos do Mundo!

Nosso Mapa Astral!

Nosso destino foi Curado...!

Igual num filme de cavaleiro



William Marques de Oliveira




sexta-feira, 17 de outubro de 2025

sábado, 11 de outubro de 2025

William... Um mancebo profano...

Quadras Incertas ao Pássaro Convulso


Se tu te sentas à noite

na varanda escura...

E me vez passar a luz da rua

Debaixo da solitária lua

E teu sonhar é com tuas

todas deusas nuas!

Saiba que sonho é com tua gostosura

E que por ti, ando perdido...

Danado de coração partido

E todos os meus versos brotam

ultimamente apenas

entre as tuas coxas grossas...

É isto apenas de mim!

o meu viver: 

Sonhar com teu beijo

Deitar no teu peito imenso

E sonho ainda mais quimeras!...

Bandidas e deslavadas cenas:

Teu rosto róseo e forte

O pescoço robusto e teso

Tuas mãos fortes

irresolutas

me segurando

E eu

tal qual pássaro convulso...

me debatendo

querendo escapar

em asas nervosas

e topete empinado!

Colidindo-me

tremendamente 

De volta a tua cintura...

Tremendo de prazer e duvida...

Contra as tuas pernas duras-duas pedras

Duas rochas de granito obeliscas!

Tentando me conformar com esta vida

intensamente ardente!...

 

Refrão:

Teu nome labirinto achava perdido!

Serpente esquecida de voar...!

Até que eu cheguei e tivestes medo

Do voo que eu podia te ensinar!


William Marques de Oliveira


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Análise Literária do Poema

de Gepeto Paulo Timóteo 


“Quadras Incertas ao Pássaro Convulso” é uma peça de erotismo simbólico e confessional muito intensa. 

Ilustração feita através de prompt do poema. No Canva

1. Título — “Quadras Incertas ao Pássaro Convulso”

O título já abre o texto com uma contradição instigante:

  • “Quadras incertas” sugere uma forma clássica (a quadra poética), mas que aqui é posta em dúvida — incerta, irregular, cambaleante.

  • “Pássaro convulso” é uma imagem fortíssima. O pássaro representa o espírito, o desejo ou a alma tentando libertar-se, mas o adjetivo convulso indica que essa liberdade é dolorosa, trêmula, carnal.

👉 Em síntese, o título anuncia um conflito entre o ideal e o instintivo, o sonho e o corpo.


🔹 2. Primeira estrofe — a distância e o desejo

“Se tu te sentas à noite /
na varanda escura... /
E me vês passar a luz da rua /
Debaixo da solitária lua”

Aqui o eu lírico fala de fora, observando o outro (ou sendo observado).
Há uma cena noturna, de voyeurismo suave, envolta em melancolia. A lua, “solitária”, projeta o clima de solidão e desejo não realizado.
O “luz da rua” que passa simboliza o desejo que tenta atravessar o escuro — talvez o lampejo do amor em meio à distância e à repressão.


🔹 3. O erotismo franco e a confissão

“Saiba que sonho é com tua gostosura /
E que por ti, ando perdido...”

Aqui o poema abandona o pudor lírico e se lança num erotismo confessional direto.
A palavra gostosura é popular, quente, quebrando a métrica e o tom clássico da quadra — uma mistura de lirismo e fala do povo.
O “perdido” é tanto emocional quanto espiritual: o eu lírico se reconhece vítima do desejo, mas sem arrependimento.


🔹 4. O corpo como templo da inspiração

“E todos os meus versos brotam
ultimamente apenas
entre as tuas coxas grossas...”

Essa passagem é brutal e bela ao mesmo tempo.
O ato de escrever — normalmente ligado à mente, à alma — agora nasce do corpo, do sexo.
O poeta transforma o desejo em verbo: o corpo amado vira a fonte da poesia.
É uma inversão romântica e simbólica — Eros como força criadora.


🔹 5. O sonho e o amor carnal

“Sonhar com teu beijo /
Deitar no teu peito imenso...”

A linguagem suaviza aqui, o ritmo desacelera, e surge um tom de ternura.
Mas logo em seguida o poema mergulha novamente em imagens eróticas:

“Teu rosto róseo e forte / O pescoço robusto e teso / Tuas mãos fortes...”

O erotismo volta, agora mais maduro, mais físico e escultórico — quase como uma adoração ao corpo masculino.
O léxico (robusto, teso, forte) constrói uma figura vigorosa, viril e sagrada ao mesmo tempo.


🔹 6. A metáfora do pássaro convulso

“E eu / tal qual pássaro convulso... / me debatendo / querendo escapar...”

Essa é a imagem central e simbólica do poema.
O eu lírico é esse pássaro — arrebatado pelo prazer, pela dúvida, pela luta entre liberdade e submissão amorosa.
A convulsão é tanto corporal (do gozo) quanto existencial (do medo de se perder no outro).

Essa tensão é o coração do poema: o amor como prisão desejada, a liberdade como medo.


🔹 7. A colisão do desejo

“Colidindo-me tremendamente / De volta à tua cintura...”

O verbo “colidir” é físico, violento e sensual.
A colisão não é destrutiva — é o ato da fusão: carne com carne, alma com alma.
Os versos seguintes — “duas pernas duras-duas pedras / Duas rochas de granito obeliscas” — trazem uma escultura de virilidade, quase mitológica.
Essa escolha imagética (rocha, granito, obelisco) confere solidez e sacralidade ao corpo amado.


🔹 8. O refrão — mito e transcendência

“Teu nome labirinto achava perdido!
Serpente esquecida de voar...!
Até que eu cheguei e tivestes medo
Do voo que eu podia te ensinar!”

Aqui o poema atinge o nível místico e simbólico.
O “labirinto” é a confusão interior do amado; a “serpente esquecida de voar” é uma imagem paradoxal e genial — a serpente representa o desejo terrestre, mas aqui se sugere que ela já teve asas, que poderia elevar-se.

O eu lírico se vê como aquele que desperta esse voo — o eros redentor, que traz consciência e transcendência através do desejo.
Mas há também o medo do amado: o medo de se ver transformado pelo amor.


🔹 9. Síntese literária

ElementoFunção/Leitura
Tema centralO desejo erótico e espiritual por um homem, vivido entre êxtase e dor.
TomConfessional, carnal, místico e por vezes trágico.
Imagens dominantesPássaro, lua, corpo, rocha, voo, serpente. Todas ligadas à tensão entre carne e espírito.
EstiloMistura de lirismo popular com simbolismo moderno e erotismo explícito.
Influências possíveisVinícius de Moraes (pela sinceridade erótica), Hilda Hilst (pela fusão entre sagrado e carnal) e até Álvaro de Campos (pela intensidade e autoanálise).

🔹 10. Conclusão

Quadras Incertas ao Pássaro Convulso” é um poema de fogo e alma — fala do amor homoerótico como força de criação e destruição, desejo e iluminação.
O eu lírico não teme o escândalo nem o descontrole: ele quer viver o amor até a última fibra.
O “pássaro convulso” é o poeta, o amante, e o homem que tenta voar dentro do próprio corpo — uma imagem de sublime beleza e desespero.



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